Até bem pouco tempo, tanto médicos quanto o público geral, tinham a crença de que a obesidade era meramente um vício de alimentação, algo como a falta de vontade de seguir uma alimentação saudável. Foi preciso um equívoco de laboratório para mostrar que uma medicação que foi desenvolvida para tratar o diabetes, fosse capaz de levar a uma perda de peso não imaginada e abrir os olhos dos cientistas para uma sinalização química nos organismos que levasse à obesidade.
Com isso, abriu-se uma nova era na medicina. O tratamento da obesidade como doença.
Novos medicamentos para emagrecer de maneira sustentável:
O emagrecimento permanece um desafio tanto para médicos quanto para pacientes pois, somente os novos medicamentos para emagrecer ainda não são capazes de interromper por completo a obesidade, embora sejam hoje a melhor ajuda nesse processo.
Assim, sabemos que aliar medicamentos, com mudanças de hábitos, como alimentação saudável e atividade física regular, tem a melhor resposta na perda de peso, na redução de doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão e diabetes, reduzindo de forma significativa riscos cardiovasculares que hoje ainda são a maior causa de mortes no mundo todo.
Para ser efetivo, o emagrecimento tem que ser associado à adoção de hábitos saudáveis, o que poderá permitir o desmame da medicação. Caso contrário estaremos transformando a obesidade em uma doença crônica que não tem cura, mas somente tratamento como a Hipertensão e o diabetes.
Novos medicamentos para emagrecer: como funcionam?
Esses novos medicamentos têm em comum a similaridade com uma substância química produzida pelo nosso intestino delgado quando a comida chega lá. Essa substância, chamada de GLP-1. No nosso organismo a estimulação do receptor de GLP-1, induz o pâncreas a aumentar a secreção de Insulina (efeito incretínico), e junto à amilina, também produzida pelo pâncreas, tem efeitos inibitórios sobre o esvaziamento gástrico, sobre o apetite e sobre a liberação de Glucagon. E sinalizam ao cérebro que podemos parar de nos alimentar.
Ozempic® , Wegovy®
São nomes de novos medicamentos para emagrecer que contêm a mesma substância química, a Semaglutida. Essa substância é similar ao GLP-1 descrito logo atrás, e tem uma longa duração no nosso organismo, permitindo aplicações semanais da medicação, o que é um grande facilitador de utilização, tornando sua aplicação cômoda e simples. Ela induz a uma perda de peso considerável, e promove proteção contra o pré-diabetes, diabetes e suas complicações, além de reduzir o risco cardiovascular.
Seus efeitos para emagrecimento são por redução do apetite: atuando no cérebro, fazendo com que a pessoa sinta menos fome. Aumento da sensação de saciedade: sensação de estômago cheio após as refeições, Retardo do esvaziamento do estômago: controla a quantidade de comida ingerida, Redução na secreção de Glucagon pós refeição: o que reduz ainda mais a elevação da taxa de açúcar no sangue.
Os efeitos colaterais são relacionados ao próprio mecanismo de ação da medicação e os mais comuns incluem: Náuseas: Frequente no início do tratamento, mas que tendem a diminuir com o tempo, Vômitos e diarreia: que podem ocorrer em alguns casos. Constipação: Relatada por alguns pacientes, possivelmente decorrente da redução do esvaziamento gástrico e diminuição na motilidade intestinal associados a redução da ingesta de alimentos; Dor abdominal: Geralmente leve e passageira, mas sem causa clara e Hipoglicemia: que é mais comum em pessoas com diabetes que usam outros medicamentos para tratar o diabetes.
Outros efeitos menos frequentes, mas que merecem atenção, incluem pancreatite, alterações na visão e reações no local da aplicação.
Indicado para tratamento e acompanhamento de pacientes com Diabetes tipo 2 e para emagrecimento e perda de peso em pacientes com sobrepeso e obesidade.
Uma aplicação subcutânea semanal com doses crescentes conforme orientação médica.
Mounjaro® (Tirzepatida)
O Mounjaro® é um medicamento injetável que tem como princípio ativo a tirzepatida, uma substância que combina a ação em dois hormônios importantes: o GLP-1 (já mencionado) e o GIP (Polipeptídeo insulinotrópico glicose-dependente). Ele foi desenvolvido inicialmente para tratar o diabetes tipo 2, mas também se mostrou altamente eficaz na promoção da perda de peso.
O GIP, por sua vez, é um peptídeo também produzido no nosso corpo, mais precisamente nas células K do intestino delgado distal e tem como principal função potencializar o efeito do GLP-1, aumentando assim seus efeitos e por conseguinte aumento da secreção de insulina e redução da glicemia.
Seus efeitos para emagrecimento são semelhantes aos descritos para a Semaglutida descrita acima.
Os efeitos colaterais podem ocorrer em 5% ou mais dos pacientes são relacionados ao próprio mecanismo de ação da medicação incluem: dor abdominal, eructações, constipação, diarreia, dispepsia, fadiga, refluxo gastroesofágico, perda de cabelo, reações de hipersensibilidade, reações no local da injeção, náuseas e vômitos.
Os efeitos colaterais graves, embora mais raros, podem incluir: problemas estomacais graves, lesão renal aguda, doença da vesícula biliar, pancreatite aguda, reações alérgicas graves, baixos níveis de açúcar no sangue (hipoglicemia), problemas de retinopatia diabética em diabéticos tipo 2, comportamento ou pensamentos suicidas e broncoaspiração de alimentos ou líquidos durante anestesia ou sedação profunda.
Indicado para tratamento e acompanhamento de pacientes com Diabetes tipo 2 e para emagrecimento e perda de peso em pacientes com sobrepeso e obesidade.
Uma aplicação subcutânea semanal com doses crescentes conforme orientação médica.
Venvanse ® (Lisdexanfetamina)
O Venvanse (dimesilato de lisdexanfetamina) é um medicamento amplamente conhecido para tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e do Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP). Recentemente, tem sido usado em algumas situações para auxiliar na perda de peso, devido aos seus efeitos sobre o apetite.
É um medicamento estimulante do sistema nervoso central e que, no cérebro, regula neurotransmissores como dopamina e norepinefrina, diminuindo a fome e os impulsos relacionados à alimentação descontrolada. Melhora o foco e o controle comportamental. Promove maior disposição.
Indicado principalmente para pacientes com transtorno de compulsão alimentar, melhorando o controle do apetite emocional. Deve ser utilizado em conjunto com estratégias dietéticas adequadas e prática de atividade física.
O uso do Venvanse deve ser feito conforme prescrição médica. Geralmente, a dose é ajustada de acordo com a resposta do paciente, sendo recomendada a administração pela manhã para evitar interferências no sono.
O Venvanse é contraindicado para:
- Pessoas com histórico de doenças cardiovasculares graves.
- Pacientes com hipertireoidismo ou glaucoma.
- Histórico de dependência de drogas ou abuso de substâncias.
- Gestantes ou lactantes, salvo orientação médica.
Os efeitos colaterais mais comuns incluem:
- Insônia: Muito frequente, especialmente no início do tratamento.
- Boca seca: Relatada por muitos pacientes.
- Perda de apetite: Um dos efeitos desejados no tratamento para compulsão alimentar.
- Náuseas: Pode ocorrer em alguns casos.
- Aumento da frequência cardíaca: Efeitos leves a moderados.
Efeitos menos comuns, mas que exigem atenção, incluem alterações de humor, irritabilidade, ansiedade e aumento da pressão arterial.
Contrave (Bupropiona + Naltrexona)
O Contrave é uma associação de duas substâncias, que juntas atuam no controle da compulsão alimentar. Elas são: A Bupropiona, um antidepressivo também utilizado para cessação do tabagismo, e que atua influenciando neurotransmissores, substâncias químicas que participam da comunicação entre as células do cérebro, como a dopamina e norepinefrina; e a Naltrexona, um bloqueador de receptores específicos do cérebro, chamados de opióides, utilizado para tratar dependência de álcool, e que também tem efeito sobre o controle do apetite, reduzindo o prazer associado ao consumo excessivo de alimentos.
Essas substâncias agem no sistema nervoso central, inibindo áreas responsáveis pelo apetite e pela recompensa alimentar. Seus principais mecanismos são:Redução do apetite e Diminuição da compulsão alimentar
Essa medicação é contraindicada para:
- Pacientes com hipertensão arterial descontrolada.
- Pessoas com histórico de convulsões ou epilepsia.
- Usuários de outros medicamentos que contêm bupropiona.
- Pacientes com dependência crônica de álcool ou uso recente de opioides.
- Gestantes ou lactantes.
Os efeitos colaterais mais comuns incluem:
- Náuseas: Muito frequente, especialmente no início do tratamento.
- Dor de cabeça: Relatada por alguns pacientes.
- Tontura: Pode ocorrer em situações de ajuste da dose.
- Insônia: Devido ao efeito estimulante da bupropiona.
- Boca seca e constipação: Sintomas comuns e transitórios.
Efeitos menos comuns incluem aumento da pressão arterial, alterações no humor e palpitações. Caso ocorra, informe imediatamente ao médico.
Retatrutida
Droga ainda em fase de testes, promete uma perda de peso superior às demais já mencionadas aqui, e semelhante à perda alcançada com a cirurgia bariátrica. É um agonista triplo, GLP-1, GIP (como a Tizerpatida) e também do Glucagon. Isso aumentou substancialmente sua potência e os estudos conduzidos até o momento, após 48 semanas de uso, mostraram uma variação -24,2% no grupo de 12 mg em comparação ao grupo placebo.
Ainda não está disponibilizada comercialmente, mas sua indicação, modo de uso, efeitos colaterais e contra indicações deverá ser semelhante aos do grupo da semaglutida e tizerpatida.
Aguardamos estudos mais completos com evoluções mais longas para comercialização dessa medicação.
Conclusão sobre os novos medicamentos para emagrecer:
Novos medicamentos para emagrecer estão surgindo, e com efeitos cada vez mais potentes. Elas ocupam um espaço antes não preenchido, e que pode ser um grande apoio na perda de peso. Mas é importante lembrar que a longo prazo, corremos o risco de transformar a obesidade em uma doença crônica como a hipertensão e o diabetes e ficarmos dependentes indefinidamente do uso dessas medicações o que tem um impacto a longo prazo ainda não definido, e um grande impacto financeiro.
O ideal é associar essas medicações à mudanças no estilo de vida, com atividades físicas regulares e alimentação adequada. e utilizar essas medicações de forma pontual e com objetivos bem definidos.
Tabela Comparativa: Wegovy x Ozempic x Moujaro x Venvanse x Contrave
Nome Comercial
(Droga) |
Wegovy (Semaglutida) |
Ozempic (Semaglutida) |
Mounjaro (Tirzepatida) |
Venvanse (Lisdexanfetamina) | Contrave (Bupropiona + Naltrexona) |
Composição | Semaglutida | Semaglutida | Tirzepatida | Dimesilato de lisdexanfetamina | Bupropiona + Naltrexona |
Receptores Alvo | GLP-1 | GLP-1 | GLP-1 e GIP | Neurotransmissores (dopamina e norepinefrina) | Neurotransmissores e receptores opioides |
Frequência de Uso | 1x por semana | 1x por semana | 1x por semana | Diária | Diária |
Indicações | Obesidade e sobrepeso | Diabetes tipo 2 e obesidade | Diabetes tipo 2 e obesidade | TDAH, TCAP e perda de peso (off-label) | Obesidade e compulsão alimentar |
Perda de Peso | Alta | Alta | Muito Alta | Moderada a Alta (dependendo do caso) | Moderada |
Efeitos Colaterais | Náuseas, vômitos, diarreia | Náuseas, diarreia, constipação | Náuseas, dor abdominal, vômitos | Insônia, boca seca, irritabilidade | Náuseas, tontura, insônia |
Necessidade de Receita | Sim | Sim | Sim | Sim | Sim |